Chateiam-me as notícias da manhã. Odeio ver os primeiros boletins de informação. Odeio. Mas dá jeito. Vê-se o trânsito. Vê-se o tempo. Tiram-se umas ideias para saber o que levar vestido. Mas não percebo. Ou melhor, até percebo; Mas não sei como fazem aquelas pessoas que escolhem a roupa de véspera? Como conseguem!? Será alguma parte do cérebro mais desenvolvida que a minha? Como adequam, antevêem, prevêem a sua disposição, o clima? Os mistérios nisto deixam-me mais abismada que ver um tipo acorrentar-se e enfiar-se em cimento para depois sair dali em 12 minutos...
Ainda assim, odiando os noticiários matutinos, vejo-os, vejo as notícias de gente a morrer à fome, de mais um atentado em Bagdade, de mais umas crianças mortas em Israel ou na Palestina, da América a mandar-nos em todos, e claro, da manchete nacional do dia; seja ela um novo imposto, uma nova fraude, um boato, uma treta qualquer que nos vai encharcar as orelhas nos seguintes dias, até à exaustão.
Vejo.
E depois?
Sou culpada. Não devia. Mas é automático. E não sei porquê, talvez aconteça com mais pessoas, mas parece sempre que de manhã todas as notícias soam mais duras, rudes, amargas, brutais. À noite talvez estejamos demasiado exaustos para notá-lo, ou absortos, ou simplesmente anestesiados pela repetição das mesmas tragédias. Ou talvez estejamos tão fartos do mundo que o nosso cérebro ao escutar as desgraças nos faça pensar: estou-me a cagar para essa bomba, estou-me nas tintas para essa nova doença, quero lá saber desse escândalo... deixem-me ver o desfile de moda em Milão ou as imagens da princesa do Mónaco com o novo namorado!
Aparte isto, há pessoas. Pessoas que trazem nos lábios um sorriso meigo. Aquele homem que nos entra pelo táxi dentro, que nos estreia a bandeirada e nos faz pensar que não é deste mundo, que deve ser da Terrugem, deve ter 90 anos e tanta saúde que por isso vive numa completa ebriedade. É mais uma daquelas coisas que não entendo...
Às vezes fico a olhar essas pessoas pelo espelho. Faço que vejo o trânsito, mas vejo-os a eles. Na realidade, é neles que afunilo o meu pensamento. Aqui e ali arrisco uma pergunta, uma sondagem, ao de leve. A última vez foi ontem. Entrou com mil cuidados e uma elegância educada. Cabelos, poucos, e brancos. Sentou-se e pediu-me para o levar às camionetas. Perguntei-lhe para onde ia, de lá, o que fazia, como lhe corria a vida... Ele limitou-se a aconchegar aquele sorriso paternal e a deixar no táxi uma única frase para além do bom-dia e até à próxima:
-vai indo... sabe, tenho uma reforma que me dá para pagar o lar e ainda sobra um poucochinho para as minhas coisas. sou um homem rico.
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