Páro. As pastilhas já guincham. A chuva molha. Os outros. Eu fechadinha e quente na minha cabine isoladora e protectora. A porta abre-se. Um tipo; atirado à força para o banco; porta puxada com 100 cavalos de força. Um estrondo de morte. Valha-nos o aço...
-Para o Saldanha!
Pois claro. Vamos lá... e um "Bom-Dia", não?
Se for preciso cumprimentam a mulher das limpezas, quem lhes serve o café, o homem dos bolos, o chefe nem se fala, a colega boa, a colega menos boa porque é amiga da boa, o colega, o outro colega, a outra colega não tão boa como a boa mas também boa, e a si mesmo, quando se olha ao espelho, cem vezes ao dia. A mim não. Para quê!? Eu sou a única "passageira". Não é ele. Eu. Eu é que sou "passageira". Aos outros precisa de mimá-los. Cuidar deles. Cuidar bem deles para que assim cuidem bem de si. Para lhe limparem bem a secretária, servirem bons cafés, guardarem sempre o Record e, enfim, quem sabe, poder ir para a cama com todas, quem sabe até com todos...
Eu não.
Eu passo.
Nós, taxistas, motoristas, passageiros, passantes, vistas fugazes, somos gente para chegar, usar e deitar fora. Descartáveis. Nós somos os que passam. A nós, passam-nos. Nós taxistas, somos assim. Chegam, usam, pagam e trespassam para o próximo que vier.
Já me aconteceu, e não minto nisto, haver quem até nem feche a porta!
Malditas segundas-feiras...
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