segunda-feira, dezembro 13, 2004

Sobre maçãs do rosto


Ela entra esbaforida, cabelo desgrenhado. A voz tremendamente apressada. Só a prática me leva a percebê-la:
-Par’exposefazf’vor!

Vai então metade do caminho a pintar-se. Tento não lhe esbater o rímel nem lhe borrar o batôn. Ela termina tudo. Arruma. Suspira. Desabafa:
-Pronto... Agora só me falta um bom copo de leite.
Sorrio. Meto conversa fiada para ver se daqui sai alguma gorjeta:
-Com uma pinguinha de café, não é?
-Não. Odeio café.
(merda)
-De manhã só bebo leite.
(insisto)
-Bem fresquinho?
-Não! Quente. Ou então morno. (pausa) O leite é sempre ou quente ou morno.

Ela abre um sorriso malicioso; fica a olhar-me pelo espelho retrovisor. Eu começo a inchar nas maçãs do rosto e sinto um calor de vergonha a encapuçar-me a cabeça toda.
Alguém me pode explicar porque é que eu corei?...

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