terça-feira, setembro 28, 2004

sobre o preço do gasóleo

A grande parte das vezes, quem desabafa dentro de um táxi ou é o motor a diesel ou o cliente, quando viaja no banco de trás. Tudo se passa como nos psicólogos (pelo menos na sua versão senso-comum e mais vista na TV e no cinema). Agora já percebem porque viajar de táxi é tão caro. Eu sou a primeira a reconhecer isso. Mas faz sentido. O objectivo é que durante a viagem você desfrute da paisagem, da nossa companhia semi-surda e de uma chance para desabafar os seus problemas. Uma espécie de confessionário, mas onde pode ver o padre pelas costas e não tem de levar com reprimendas no fim; basta deixar a moedinha. Se, por algum caso ou acaso, você não aproveita isto, o problema é seu.
Seja como for, há para além destes dois casos um outro, mais raro, em que somos nós, taxistas, quem acaba por desabafar.
Recentemente, com um cliente que ia de Santa Apolónia para o Rossio, a conversa começou por piqueniques, deambulou para a base das Lages, descaiu para o Bush, abelhas africanas e daí foi desembocar no preço dos táxis que não tem parado de subir. Chegados aqui, era incontornável para mim ausentar-me por completo da conversa. O assunto dizia-me especialmente respeito. Não consegui conter-me. Bem sei que a todos a vida custa, mas é preciso que se perceba que, se cortam as margens de lucro, quem vai ficar com menos no bolso para comprar umas bolachas de canela ou umas fatias de fiambre da perna no supermercado, somos nós. Taxistas.
Aproveitei então um sinal vermelho ao pé do Jardim do Tabaco, virei-me para trás e perguntei-lhe de caras:

-O senhor já viu quanto é que subiu o gasóleo de há um ano para cá!?

-Ó menina, eu sei lá! Eu meto sempre os mesmos mil paus.


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